sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Manguebeat - Da Lama Ao Caos



     Recife, início dos anos 90. A "metrópole nordestina" é, então, a 4ª pior cidade do mundo em qualidade de vida, com mais da metade de seus habitantes morando em favelas. Durante seu crescimento desenfreado e caótico, o progresso mata seus rios e aterra seus estuários, entupindo das veias da cidade e, assim, condenando Recife ao infarto.
     Deste contexto, surgiu em 1991, o manifesto Caranguejos com Cérebro, feito pelo Mangueboy Fred04 (que você confere clicando aqui), da  banda Mundo Livre SA e endorsado pelo artista que viria a ser o maior sintetizador do movimento: Chico Science. A partir deste momento, surge um núcleo de produção de idéias pop, que enfia uma parabólica ideológica na lama e aplica uma injeção cultural de adrenalina nas veias da cidade, em um movimento cultural que ganharia o país, especialmente em seu braço musical, conhecido como Manguebeat.
     A "batida do mangue" é uma mistura de coco-de-roda, embolada, pop , maracatu e rock'n'roll e é tido como o último grande movimento da música brasileira.






     Na temática do movimento mangue, estão em foco favelas, degradação, fome, rios, pontes, caos, caranguejos e lama. Música urbana em sua totalidade, aproveita-se de idéias culturais previamente estabelecidas por artistas como o escritor Josué de Castro, que assemelha o homem ao caranguejo em seus escritos Fome no Brasil e no Mundo e  Geopolítica da Fome (obra que foi transcrita para várias linguas).

"Ô Josué, nunca vi tamanha desgraça, quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça!" (Chico Science)




   
     Em expansão ideológica constante, a batida do mangue foi ganhando força de expressão no Recife. Surgiram bandas como Sheik Tosado e Eddie, que também incorporavam a idéia. Assim, os homens - caranguejos ganharam a cena nacional, em especial com Chico & Nação, que surpreendiam à todos os que escutavam o funk/rock regado à críticas sociais e batidas em tambores de maracatu. Em 1992, Chico lançou o álbum Da Lama Ao Caos, que também foi lançado nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
     Quatro anos depois, Afrociberdelia, o segundo álbum de Chico & Nação, foi lançado. Até hoje, o álbum é considerado por muitos, o ápice do manguebeat. O artista levou o mangue ao redor do globo, viu seu álbum se posicionado em 5º lugar na World Music Charts da Europa e é o grande responsável por esse patrimônio musical brasileiro, que até hoje dá frutos. Infelizmente, Chico nos deixou em 1997, vítima de um acidente de carro, sua voz, no entanto, sobrevive. Hoje, basta ir a um show do Nação Zumbi em Recife, que não tardará a escutar um ensurdecedor "Chico! Chico!"
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