quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista: Luiz de Assis




     Fundador e porta-voz de um dos maiores fenômenos musicais no estado, a banda de reggae Vibrações, Luiz de Assis vem evoluindo cada vez mais seu trabalho solo, onde expande sua musicalidade à novos horizontes, porém, sem esquecer daquilo que o tornou um dos grandes compositores na música atual alagoana. Portador de um estilo peculiar, que remete às raízes afros de seu povo, Luiz fala ao ouvido interativo sobre reggae, inspirações, influências, auto-valorização e sobre a riqueza da nossa cultura.

Luiz, a quanto tempo você está no cenário musical de Alagoas?

13 anos.

Quais as suas principais influências?

Minha maior influência musical vem do reggae, que foi onde me inspirei para dar início à minha carreira musical, mas sempre ouvi muita mpb "das antigas" e soul através de meu pai que sempre foi um amante da música. No reggae, meus cantores prediletos são, entre outros, Bob Marley e Jacob Miller. Já em outros estilos, gosto muito de Djavan, Stevie Wonder, Tim Maia, Gilberto Gil, Cassiano e por aí vai...

Você sempre foi um artista conhecido pelas letras de crítica social e conscientização e admirado pelo ritmo de sua produção musical. Como você compõe? existe uma estrutura fixa  de composição (jeito de compor, rotina de composição) ou você prefere transcrever sem seguir regras?

Geralmente, começo pela letra, que foi o que despertou meu interesse pela carreira musical (no meu caso a música serve de veículo para a mensagem que eu quero passar). Muitas das vezes eu saio pela rua pensando na poesia que escrevi e aos poucos uma melodia surge cantando aquela história. Só de vez em quando é que a música pinta antes da letra.

Seu novo trabalho tem o título de "Chamada", uma chamada feita à que?


Na capoeira angola, a "chamada" é o momento em que um dos jogadores convida o outro para uma dança transe, para frente e para trás até que o jogador que convidou decida parar. Essa dança pode acabar com um golpe aplicado pelo jogador que convida ou simplesmente com uma esquiva até retornar ao jogo. A "chamada" simboliza a vida, que tem seus momentos tranquilos e também suas tempestades. "Chamada" é também o cântico xamã de evocação da boa energia, praticado pelos povos indígenas. então quando digo que esse show é uma "chamada" estou fazendo alusão aos meus ancestrais, com intenção de criar um elo entre o que foi, o que é e o que ainda será.



O Brasil e, em especial, o nordeste possui um quadro cultural imensamente regado pela cultura afro, no entanto, a sociedade só se interessa pela cultura massificada ditada por interesses de empresários, donos de rádio e canais de televisão, preferindo "virar as costas" para a produção local, sincera e rica, de artistas como Hermeto Pascoal, Chau do Pife e etc., para aplaudir aquilo vem "enlatado". Como o artista alagoano pode mudar isso?

Creio na auto-valorização como o primeiro passo para essa mudança. acredito que, se criarmos uma identidade, ficará mais fácil lutar por nossos direitos. Quem conhece meu trabalho sabe que canto com meu sotaque natural e isso é algo que a gente vê muito pouco por aqui. Não que isso seja a solução, mas a gente precisa se ver na tv, se ouvir no rádio e ter com o que nos identificar. Aí,  consequentemente, a gente vai ter com o que se orgulhar. Cheguei à conclusão de que, quando a gente é regional, desperta um interesse universal, e isso, há muito tempo nos é ensinado por estados como Pernambuco e Bahia. Está mais do que na hora da gente dar esse grito de liberdade. vamos ter orgulho da nossa cultura!


Você acha que a universidade tem papel fundamental em  difundir e incentivar a valorização da cena cultural alagoana? Isso acontece?

Acredito sim. Na universidade muita gente desperta para sua cultura, começando a valorizar o que antes era um íntimo desconhecido. De certa forma a universidade tem desempenhado esse papel há muito tempo, embora esse movimento seja muito mais dos alunos que da instituição em si. Na verdade, a universidade pode ser um grande cenário para essas  importantes revoluções.


Qual a principal diferença entre o trabalho do Luiz vocalista da banda Vibrações e do Luiz em carreira solo?

A diferença maior está nas linguagens musicais, já que meu trabalho solo não se restringe a um ritmo. Quanto à poética, no reggae a mensagem é direta, "na lata", já no meu trabalho solo a poesia é um pouco mais subjetiva.


Você acha que existem barreiras pra arte, ou devemos valorizar todas as culturas, estrangeiras ou não e procurarmos nos expandir para tudo aquilo que for bom?

Particularmente, parto do princípio da identificação. Se eu gosto de algo que ouço de outras culturas, inclusive estrangeiras, não vejo porque criar barreiras e deixar de incorporar essas influências ao meu trabalho, é claro que, sem esquecer e muito menos menosprezar minha origem.




Confiram a estréia de Chamada, o novo trabalho de Luiz de Assis no dia 25/03/11:



Destaques do trabalho solo de Luiz de Assis:
  • Abertura do show da cantora Vanessa da Matta em Maceió (2000);
  • Finalista do FEMUSESC, com a canção Razão e Emoção (2004);
  • Finalista do FEMUSESC, com a canção Ser Felizes (2007);
  • Finalista do FEMUSESC, com a canção Corpo Fechado (2008);
  • Vencedor da categoria Melhor Intérprete do Festival do Instituto de Música Zumbi dos Palmares, com a canção Força do Ser.
Página oficial de Luiz de Assis: http://luizdeassis.blogspot.com/

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